Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.
- Ricardo Reis

8 de fevereiro de 2011

Deixa-me


Este sangue danado que teima em correr nestas veias intermináveis, acabou. Não foi o sangue que acabou, foi sim, o correr. A obstinação deste líquido ordinariamente vermelho teve um fim. Passou de um correr para um vagueio frágil.Quero arranca-lo. Quero renová-lo, já é tão impuro. Quero rasgar-me por completo. Quero terminar este corpo. Este corpo que já não me serve de muito. Ele cinge-me a mente, ele aperta-me o peito, ele restringe as minhas mãos de cumprirem os meus desejos. Como se já não tivesse qualquer domínio sobre ele. Já não sei o que quero deste mundo. Estou confusa. Quero esfolar este corpo maldito e fora de controle. Estou perdida. Ele enfeita-se, ele impõe-se, ele faz questão de se mostrar. Bolas! Não é isto que eu quero! O meu corpo está descontrolado. Faz coisas que não deve, mente, engana e trai.  Sei do que ele precisa, mas também sei que não lho posso dar. Isto é a maneira dele se revoltar. Os olhos que seguem o que pretendem, as mãos e os braços que se esticam para rapidamente se recolherem, a boca que se abre, as palavras que não são pronunciadas. Tudo isto revolve dentro de mim. Tudo isto me aperta o sangue que quer circular mas que não lhe é permitido.
Algo toca, será a campainha da salvação ou da perdição?

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