Violoncelo

As minhas mãos cheiram a café. Um cheiro adocicado e, no entanto, amargo. Elas remetem-me a um passado inexistente. Um tempo em que eu tinha asas e podia voar e ouvir o som fascinante e encantador dos verdadeiros sonhadores.
Tudo nela inspira um ar de autoridade. Nem todos lhe podem tocar.
O seu tom de pele, castanho com reflexos dourados, emana o puro brilho da sua imaculada beleza, os seus traços negros e belos, cuidadosamente pintados, a sua voz tão afinada e afiada que corta a própria respiração. A sua cintura elegante, fina e delicada, fere. A forma como se levanta e mantém a sua pose é algo jamais visto. Nunca ninguém olhara tão fixamente para uma obra de arte tão bela como esta. O seu criador é sem dúvida, digno de louvor.
A sua voz. Tão profunda, tão suave, tão comovente, tão desesperada, tão fervorosa, tão apaixonante.
Tu és a verdadeira voz dos sonhadores. Preciso que eduques os meus ouvidos, de novo. Há muito que perdi a vontade de sonhar, mas nunca perdi a vontade de te ouvir.