Saudade Possessiva

Desculpa-me amor, por ainda me atrever a sonhar. Ainda olho para ti com olhos de ver e vejo em ti algo estranho, um descontentamento, uma solidão, uma saudade, uma lágrima. Ou se calhar, estarei a imaginar um mundo verdadeiramente inconcebível, afinal, eu gosto é de fingir. Fazes-me triste. Apareces diante de mim, trocamos olhares por uns míseros segundos, segundos esses que parecem minutos, horas e dias. Olhares intensos e ardentes de desejo. Quero esticar estes braços e entrelaçá-los em volta desse teu corpo. Em volta desse teu pescoço gracioso, que suporta o teu gesto sublime que outrora carregava tanto amor por mim, esses olhos de cor tão profunda, essa boca, que pronunciou palavras que jamais pensei ouvir, esse cabelo tão vulgar, mas tão distinto. O que aconteceu amor? Quero beijar-te. Deixa-me beijar-te! Deixa-me agarrar-te dentro destas quatro paredes e possuir-te. Deixa-me conhecer o teu corpo milímetro a milímetro. Deixa-me amar-te de novo. Amor restitui-me à minha antiga forma, que eu restituo-te à tua. Vamos voltar à perfeição que não soubemos aproveitar. Ainda podemos fingir o amor de outrora. Amor porque não percebes tu, que apesar de estar rodeada de gente, estou sozinha, simplesmente porque tu não estás comigo. O corpo está acompanhado e livre de qualquer prisão, mas o meu coração está só e dilacerado pelo arame farpado. Meu bem-querer, rogo-te de novo, faz-me voltar às origens, mas não me faças ir sozinha. Parte comigo. Não me deixes.
Não agora.
Não agora.