Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.
- Ricardo Reis

3 de agosto de 2010

Dores e alívios

  Não percebo. Há tanta coisa neste mundo que eu não percebo e algumas delas, nem quero perceber.
Não sei se devo tentar perceber o que se está a passar neste preciso momento em mim. Parece-me tudo tão confuso. Parece tudo apenas um flashback, daqueles castanhos alaranjados com aspecto de velhinhos, mas que na verdade aconteceram o mês passado. Flashback de um tempo outrora tão delicioso e no fim acabou no caixote do lixo.

 No fim, saio magoada com ninguém para me apoiar. Acaba sempre em desgraça. A única coisa que me segura, é saber que um dia o meu esforço vai ser recompensado. Estes sentimentos de revolta, de divisão, de solidão, de tudo, enfim. É tudo tão avassalador. Deixam-me completamente desnorteada. Num momento vejo-me sozinha, noutro, vejo-me acompanhada. Não percebo. Num momento sinto-me despedaçada, noutro, sinto-me curada. É tão esquisito, incompreensível e no entanto, real. Eu grito e às vezes ouvem-me e ajudam-me, outras vezes nem me ouvem respirar. É estranho, inexplicável e no entanto, verdade. Enquanto as marcas se aprofundam, eu apenas choro no meu canto, como sempre, à espera do meu príncipe encantado. Gloriosamente lindo num cavalo branco, impondo respeito e admiração. Espero e espero e espero e espero. E espero mais um bocado, mas ele não vem. Com quem é que estou a brincar? Príncipes encantados não existem. A minha alegria e a minha euforia nunca irão chegar. Dos meus olhos inchados e vermelhos, do meu rosto desesperado e do meu nariz a pingar, a minha boca soletra lentamente as palavras que jamais queria pronunciar. Palavras existentes, mas inaudíveis. A minha boca está seca e fria. É apenas capaz de soletrar uma palavra dura e cheia de amargura: Desisto.
Fecho os olhos, ponho a cabeça para trás e espero. Espero que tudo acabe.
De repente, sinto algo. Uma presença. Uma silhueta se forma ao longe. Um corpo e uma mão que me estende água e me sussurra ao meu fraco ouvido: Não desistas, por favor.
Tanta vez que passei por esta situação. Pensei que esta era de vez. Pensei que ia ficar pelo caminho. Um sentimento de nostalgia invade-me o corpo e a mente. Arrepio-me e penso que isto possa ser um sinal de algo maior que eu. Mas depressa me lembro, já vi isto acontecer-me tantas vezes, que já lhes perdi a conta. Até mete nojo, até já parece que faz parte da minha rotina. Só me resta esperar que seja desta. Já não espero o príncipe. Já não quero o cavalo branco e majestoso. Agora só quero água para molhar a boca, uma mão para me levantar, um ombro para chorar e uns ouvidos para ouvir. Nada mais. Príncipes encantados e cavalos brancos nao existem. Quer dizer, os príncipes não, mas os cavalos sim.

1 comentário:

HiPmp5 disse...

Desejar o príncipe é o mesmo que querer que a perfeição exista alem dos sonhos...

E sim, vítimas da rotina quer queiramos quer não todos somos, o que se pode fazer é fazer para quebra-la e não deixar que ela gire a nossa vida.

Mas que raio agora também chamas aos homens de cavalos?

opa...

bjs